Dentre os
vários projetos com base na idéia de cidade ideal, no Renascimento, apenas
Palmanova (1593), projetada por Scamozzi, foi construída. É um plano de
fortaleza e estrutura, planejada para proteger contra os ataques dos otomanos
na Boênia, inspirada nos tratados teóricos do século XV, que devia sempre que
possível projetar as cidades a partir do círculo, do quadrado ou de um polígono
regular, destacando o ponto central ocupado pela sede do poder e pela praça.
Dando ênfase
para sua complexa geometria (estrela de nove pontas), com traçado regular,
tendo suas principais ruas partindo de uma grande praça central, dando uma
ideia de rede geométrica, conceito altamente referente ao ideal renascentista,
que também englobava como fortes traços: centralidade, homogeneidade,
geometria, ideal de forma e perspectiva. Palmanova conseguiu chegar até os dias
atuais conservando seu traçado original, seu contorno fortificado e seus
principais edifícios, sem que tais elementos tenham sido descaracterizados por
desenvolvimentos posteriores.
A cidade
ideal nascia e existia como obra de arte, o que contrapõe com a cidade real que
mostra as dificuldades do fazer a arte e os traços contraditórios do mundo em
que se faz. A cidade é um modelo de progresso, a cidade ideal vai muito além
disso, é um módulo que pode se pode modificar, sem mudar sua substância. Isso
gera o pensamento de algo imutável. Mas na realidade a cidade deixa de ser
imutável e passa a ser algo com constantes mudanças no decorrer da sua evolução.
A cidade
ideal é tão surreal que é impossível de atender a todos os seus conceitos.
Palmanova, por exemplo, foi projetada para ser habitada por comerciantes,
artesãos e agricultores, mas apesar das condições maravilhosas e disposição
elegante ninguém escolheu mudar para lá e com isso Veneza fez uma liquidação
forçada desse magnífico espaço planejado, perdoando criminosos e dando incentivos
para as instalações na cidade. Hoje, é visitada apenas por curiosidades.
O ideal é
tão organizado que foge dos parâmetros do ser humano. O crescimento
descontrolado de uma cidade é imprevisível no projeto urbanístico da mesma.
Isso nos remete a ideia de que o ideal é algo parado no tempo, e o real já é
baseado no progresso, no desenvolvimento que acontece dia apos dia. Com base
nisso é impossível ter uma cidade completamente ideal, mas não só é viável,
como acontece atualmente, a existência de cidades ideais que se inserem dentro
da cidade real.
A humanidade
pode evoluir, mas a cidade real nunca deixará de existir, para dar lugar a
ideal. Isso está intrínseco na humanidade.
Referências Bibliográficas:
BRANDÃO, Carlos Antônio. A formação do
homem moderno vista através da arquitetura, 1991.
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte
como história da cidade, 1998.
Ensaio Crítico realizando por Maria Natália (eu) para a disciplina de CuCA [1º Período/2010] na UFG.
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